Que viajar é bom todo mundo sabe. Colocar o pé na estrada acreditando na felicidade de Aristóteles (“ser feliz estimula o desenvolvimento”) talvez seja a cura para muitos problemas do nosso século. Sem ir longe demais no pensamento, vamos trazer para perto nossa paixão pelos passeios, despejá-la sobre nosso problemas e ver o que sobra.
Tudo começou aos 90 anos de idade. Problemas não faltavam para Norma, uma senhora que viu o marido falecer de câncer e descobriu que a doença também existia em seu corpo. O caso mais comum seria “encarar o problema de frente”, começar uma quimioterapia e não desistir da vida. Esse é o protocolo, foi a recomendação dos médicos, e provavelmente de todos que acompanhavam a situação. Mas Norma tinha uma definição diferente para “não desistir da vida”: viajar.
Antes de continuar com essa história inspiradora, vale a pena inserir um tempero novo ao pensamento bovino de “sou um boi, logo seguirei a boiada”. Posso me inspirar para escrever o trabalho de conclusão de curso da faculdade em uma van? Uma pousada tranquila pode me ajudar a reatar um relacionamento? Aventuras malucas superam traumas? Vamos considerar tudo isso enquanto conhecemos mais essa velhinha ousada.
Norma disse NÃO para o tratamento contra o câncer e começou o tratamento contra a infelicidade, comprou umas passagens e passou a viajar pelo mundo como uma garota que está descobrindo a vida. Em sua cadeira de rodas, a velhinha simpática está nesse exato momento visitando lugares fantásticos e aproveitando seus dias. Inclusive já foi ao museu de Nova Orleans sobre a segunda guerra mundial, conflito que Norma lembra muito bem (trabalhou como enfermeira socorrendo soldados feridos), a ponto de ser recebida com honra no museu.
Ver os olhos da mãe brilharem em meio a tanta dor é um reconforto para o filho que acompanha Norma nas suas aventuras.
Ah, um cachorrinho também faz parte dessa trip.
Tudo bem, talvez você não tenha 90 anos, nem câncer, mas vale a pena refletir se a experiência de aventureiro deve ou não fazer parte de sua agenda. Nora não é a única que está vivendo momentos de saúde; existem diversos mochileiros pelo mundo interessados em descontar um pouco das dificuldades da vida em cachoeiras, parques e praias. Pode ser coisa de aposentado, desocupado, ou pode ser inspirador, curador.
“Sinto-me bem. Saio por aí todos os dias empurrando minha cadeira de rodas”.
Avante Norma!